Ciber-estruturas vão monitorizar em tempo real o que se passa nas águas e fundo marinho.
São sítios perigosos para os cientistas pesquisarem. Mas os segredos dos oceanos podem começar a ser revelados por uma panóplia de instrumentos e veículos robotizados, cuja informação fica acessível na net. Os EUA estão a avançar com essa ciber-estrutura.
Em 2014, os Estados Unidos terão montada uma rede de monitorização dos fundos oceânicos do Pacífico: sensores, espectómetros, robôs, estações várias de transmissão de dados estarão aptos a enviar para a superfície informações sobre física, química e dinâmica desse meio hostil ao homem que, a profundidades abissais, apenas tem marcado presença com o “depósito” de fibras ópticas para as comunicações. Esta aventura sobre a última fronteira foi ontem descrita por John R. Delaney, da Universidade de Washington e director dessa iniciativa. O oceanógrafo foi um dos dois oradores convidados para a sessão plenária do Encontro com a Ciência, a decorrer até amanhã, quarta-feira, em Lisboa, por iniciativa dos Laboratórios Associados do Estado.
Delaney referiu-se a esta exploração dos oceanos como um novo enfrentar do desconhecido pela humanidade e uma viagem “à fonte da nossa origem”. E, se sublinhou as perspectivas que se abrem à investigação ecogenómica, por exemplo das bactérias que vivem na escuridão junto a chaminés vulcânicas submarinas que borbulham a 350 graus, também realçou as potencialidades de exploração económica de metais e outras substâncias.
Estudos e extracção que podem ser facilitados através da tal ciber-estrutura, com capacidade para recolher amostras e enviá-las para análise laboratorial em 24 horas. Até agora, a observação global dos oceanos depende dos dados de satélites, dizendo sobretudo respeito a correntes, temperatura e salinidade.
Segundo o responsável pelo programa de monitorização norte-americano do fundo oceânico e águas profundas, muito falta conhecer sobre esta parcela maioritária da superfície do planeta. E, no entanto, lembrou, é dessa massa de água que depende muita da absorção do CO2 (metade das emissões deste gás proveniente da queima de combustíveis fósseis é aí integrada).
Por outro lado, se se sabia já da influência dos oceanos no clima, começa-se a desvendar melhor o seu papel nas colheitas agrícolas. Ora esta é uma chave fundamental para se saber como, num futuro de quatro décadas, se vão alimentar mais dois mil milhões de bocas no planeta. A monitorização é essencial, até porque “os oceanos estão a mudar e fazem-no de forma imprevisível”. Daí que sejam precisos centenas de robôs e milhares de sensores para estudar o seu comportamento.
Delaney, que colabora com o traçar das perspectivas para Portugal em matéria de exploração das profundezas oceânicas, afiançou que os dados norte-americanos vão ser disponibilizados na internet. “Não vamos ficar com os dados. Serão abertos, em tempo real, e interactivos. O oceano estará no bolso do ser humano”, disse. E deixou um aviso, referindo particularmente o caso das profundezas dos Açores e suas chaminés vulcânicas: “É preciso muita colaboração entre os investigadores e entre estes e a indústria”.
Fonte: http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1611149
terça-feira, 6 de julho de 2010
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